Poderia ser o álbum do Pedro Abrunhosa, mas não. É mesmo uma das coisas que sinto mais falta. Poder ir viajar para um destino quente, com águas calmas e mornas, com pouca ou nenhuma roupa, com bebidas alcoólicas coloridas para ganharmos coragem líquida.
Noites loucas, de preferência sem dormir, com muito e bom sexo, com muitos carinhos e cafunés, com coisinhas boas e sem horários. Com a barriguinha cheia de comidas com sabores exóticos e diferentes, inebriado e animado, este é o mundo que me faz mais falta.
Outra coisa que me faz falta... passar uma noite a dançar loucamente numa qualquer discoteca, num louco roça roça com desconhecidos, sair exausto e transpirado ao raiar do dia, pegar num iogurte enorme e ir para a beira da água ver o Sol a nascer.
Não sou a pessoa mais dada a melancolias, mas há dias em que sou assaltado à mão armada, cara podre mesmo, por esse sentimento tão tuga que é... a saudade.
E a saudade de quê, perguntam vocês?
Por onde começar... saudades de pessoas, primeiro. Desde Março do ano passado que praticamente não saio de casa. Já é quase um ano, sem praticamente fazer um monte de coisas que adoro: ir beber um copo, ir a um jantar, ver gente gira, dar um flerte sem consequências, dar um sorriso malandro e uma resposta com segundo sentido a uma funcionária de uma loja e vê-la a corar (ou a responder à letra e eu ficar de cara à banda...)
Depois... saudades de fazer as minhas cenas, ter a minha rotina, que isto de reuniões por zoom e o caralho a sete, é um desmazelo. Nunca fui o menino do fatinho e da gravata, mas acordar bem cedo, tomar um duche, desfazer a barba, vestir uma roupinha bonita e entrar no carro para ir trabalhar é uma vida que sempre me fez muito sentido. E agora, acordar pra estar em frente ao pc ou ao telemóvel 10 minutos depois... é uma merda!
E ainda... saudades vossas! Dos blogs que acabaram, das pessoas que costumavam ir a esses blogs, das conversas que se tinham nesses blogs (e fora deles...).
Finalmente... saudades de ver calças justas, decotes arrojados, transparências malandras. De um bom macacão ou um vestido de lã tipo sereia numa gaja boa. De uma camisa de botões justa com aquele botão maroto desapertado no soutien. Daquela alça rendada a aparecer da gola de barco. Daquele andar sacolejante que não esconde nada. Daquela perna torneada na calça de sarja.
Em menos de um ano, dois rapazes da minha idade, com quem cresci, morreram. Estamos a falar de pessoas que nem 40 anos têm. Um deles deixou a mulher, um filho pequeno e um bebé. Mais o choque junto da família e amigos. O outro deixa "apenas" os pais devastados e um vazio enorme junto da restante família e amigos.
Neste momento não estou perdido, mas estou muito preocupado. Não necessariamente pela minha saúde, porque essa estou consciente de como está, mas sim pelo desenrolar dos acontecimentos. Ver as pessoas da minha criação a desaparecerem, sejam mais próximas ou menos, ainda antes dos 40 anos, é algo que não me parece normal. Que não faz sentido. Ver pais a enterrarem filhos, para mim, é contra-natura.
Ver malta que está na flor da idade, em pleno Século XXI, a cair desta forma que nem fruta madura, não pode ser normal. Nem desejável. Nem algo a que me vá habituar, seja hoje, daqui a um ano ou quando for velhinho.