Man Eater
"Hoje não está a ser nada fácil"
Exasperado, ele senta-se à mesa, enquanto ela serve o jantar.
"Então, que se passa? Não sai nada de jeito?" - pergunta ela, meio preocupada, meio brincalhona, sabendo o quanto o seu amado era dado ao exagero.
"Não sei, parece que as ideias estão todas a fugir-me" - responde ele servindo-se de um copo de vinho tinto
Durante a refeição, falam de assuntos triviais, ela cuidadosamente evitando temas que o possam lembrar do bloqueio criativo que o assola, ele relaxando e aparentemente ultrapassando a situação. Como sempre demoram bastante e desfrutam da companhia um do outro. Casados há mais de 10 anos, não há nunca falta de tema. Nem que seja brincarem um com o outro por causa das suas vidas profissionais tão diferentes. Mas hoje não, ela tem o cuidado de afastar a conversa do trabalho, preferindo distraí-lo com as notícias desportivas que ele tanto gosta e falando-lhe de temas banais como as compras da semana e as tropelias do filho na escola. No final da refeição, já está com o homem alegre e risonho por quem se apaixonou. Já revê nele a confiança que o levou a arrancar-lhe um beijo duas horas depois de a conhecer numa festa com amigos comuns, beijo esse que a deixou tão furiosa pelo topete como surpreendida pela reacção do seu corpo. E foi assim que, nessa noite, soube o que era apaixonar-se.
Ao longo da adolescência, havia coleccionado namorados como quem colecciona cromos de futebol. Havia perdido a virgindade cedo, com o quinto ou sexto rapaz que beijara, pensando que ele seria o tal, ainda uma tola imberbe de quinze anos. Quando ele deixou de lhe falar no dia seguinte, ela percebeu que os homens apenas a queriam para uma coisa - o seu corpo sinuoso como uma estrada de montanha. Então, resolveu aproveitar e divertir-se o mais possível, retirando ao mesmo tempo o máximo proveito disso. Durante o restante tempo no liceu, recusou envolver-se com os outros miúdos da escola, preferindo rapazes mais velhos, que lhe pudessem proporcionar uma vida melhor. Era frequente vê-la com malas, ténis ou blusas de marca, oferecidas pelo mais recente namorado, que trocava rapidamente após se fartar dele. Na faculdade, que concluiu rapidamente, seduzia colegas pelos apontamentos. Após terminar o curso, apenas procurava homens abastados, até ao dia em que aquele escritor meio hippie lhe trocou as voltas do destino e a virou do avesso com um beijo roubado durante uma animada conversa acerca de música Indie.
Hoje, mulher mais madura, mãe de uma criança, gosta de relembrar esses momentos com o seu homem. E é isso que faz no final da refeição. Vai até ao quarto, veste o sarong que ele lhe ofereceu sem nada por baixo e assoma à porta do escritório onde ele se encontra, meio absorto a olhar para o computador. Quando ele levanta os olhos, ela sabe que ele a deseja tanto como no dia em que a beijou. Ela mete a mão ao pescoço, desata o nó do sarong, deixa-o cair no chão, observa a reacção do seu homem, sorri e vai para o quarto... Por hoje o trabalho está feito. A inspiração terá que vir amanhã...